domingo, 14 de novembro de 2010


Tenho de ter paciência para não me perder dentro de mim, vivo me perdendo de vista.
Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída.
Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.
O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo.
Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo.
E tudo o que eu amo é arriscado.
Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca...

(Clarisse Lispector)

Nenhum comentário:

Postar um comentário